2012 chegou, o que esperar para a política e economia em Londrina

02/01/2012 11:41

Entrevista com o cientista político Mário Sérgio Lepre e a economista Clévia Israel França sobre as perspectivas econômicas e políticas para o novo ano

 

O ano novo chegou e, apesar das previsões do fim do mundo em dezembro, traz expectativas de que tudo irá melhorar. Será? 2012 tem particularidades que 2011 não teve. O mundo está em crise econômica e o Brasil não deve passar ileso por ela. Este ano, também enfrentaremos eleições municipais, que podem mudar a realidade de Londrina. Para tentar antecipar um pouco do que pode acontecer confira as entrevistas com o cientista político Mário Sérgio Lepre e com a economista e professora de Administração da Faculdade Arthur Tomas e de pós-graduação em Administração da PUC e FGV Clévia Israel França. Os dois fizerem uma análise do cenário político e econômico para ajudar a entender a situação.

 

Entrevista: Mário Sérgio Lepre, cientista político

O que o senhor vê para 2012 – que é um ano eleitoral -, baseado no cenário atual?
Mário Sérgio Lepre - É muito prematuro falar sobre o cenário eleitoral, porque há muita coisa ainda para acontecer. Há muita negociação que pode desembocar numa candidatura ou outra. É preciso levar em conta a decisão do governador [Beto Richa], se o PSDB terá ou não candidato próprio. Se não tiver, o grupo do governador vai compor com quem?


E a posição do Richa pode mudar o cenário?
Sim, ela influencia diretamente. São posicionamentos que vão ser tomados. Na verdade, enquanto não tiver essas definições, as negociações finalizadas, consolidadas, tudo são conjecturas. O que temos, por enquanto, são postulantes a candidatos. Então, dentro desse cenário, teríamos um candidato do PSDB, aí tem o Barbosa Neto [PDT], que tudo indica que vai concorrer, e aí tem o grupo do Belinati [PP]. E esse vem forte. Talvez nem tanto o Antonio Belinati, que eu acredito que não vá concorrer, mas pelo sobrinho. Esse grupo, apontando o nome do Marcelo Belinati, que é o nome mais adequado e eles sabem disso, essa candidatura tem muita base.


Teriam vantagem em aliar o belinatismo com uma novidade?
Sim. O Marcelo trafega em outras áreas e como vereador, com o lixo que foi esta Câmara, foi bom. Dentro dessa Câmara aí, a vereança dele foi lógica, correta. Tomou posições adequadas, votou contra o aumento do número de vereadores, contra o aumento de salário, enfim, foi coerente. Então imagina que, além do belinatismo, ele começou a agradar outros segmentos.


E o PT e a Márcia Lopes?
A Márcia Lopes é um nome que também é razoável e é mulher. Dois fatores que são favoráveis. No entanto, pesa contra ela o passivo do Nedson [Micheleti] e do PT em Londrina. Mas acredito que, depois da gestão do Barbosa, talvez até consiga superar. Já outros nomes como o Tercílio [Turini] dependem muito de costuras de alianças.

E esses nomes que estão surgindo, Markão Kareca (PRB) e Carlos Camargo (PSC), podem fazer alguma diferença nisso tudo?
Markão Kareca eu não colocaria como um nome que afete o cenário. É muito difícil. Mas Carlos Camargo pode ser a grande incógnita porque, se ele realmente sair candidato, o cenário vai ser totalmente diferente. Carlos Camargo tira voto da base do Belinati. Se embalar no jogo, fará a situação se modificar totalmente.

Pode ser o curinga da eleição?
Sem dúvida. A entrada dele jogaria para o alto todas as apostas. Se ele entrar na eleição, puxa para ele votos do Barbosa, do Marcelo, do Antônio. Se colocar ele nas pesquisas, vai pra frente. Então é uma incógnita. Vai depender demais de como vai estar a conjuntura, as alianças, a negociação que daria a ele a candidatura.

E o Barbosa nisso tudo? Se continuar nessa toada, com denúncias, trocas de secretários, fazendo inimigos em todos os cantos, o cenário é negativo para ele?
Totalmente negativo. Embora, a questão da reeleição é bastante interessante. Ela é como um mandato de oito anos com um plebiscito no meio. Normalmente, o candidato que concorre a uma reeleição é um grande candidato. Mas não é o caso do Barbosa, o passivo é muito grande. Nesse ano, ele vai ter que se desdobrar para corrigir tudo.

E a Câmara? Se continuar também nessa toada?
Renovação. Já é uma Câmara que vem da renovação da anterior, que parecia o fim do mundo, mas não adianta trocar seis por meia dúzia. O fato de renovarem 80% da Câmara não significou nada porque se trocou nome, trocou mediocridade, digamos assim. O voto precisa passar por uma mudança na qualidade. Precisa-se mudar a qualidade de político. E os partidos precisam ser responsabilizados pelos nomes que colocam à disposição. A única alternativa que vejo é acabar com o voto obrigatório. Já tivemos essa obrigação demais. Se o voto fosse facultativo facilitaria porque só votaria quem se interessa realmente por política e quer fazer diferença.

Entrevista: Clévia Israel França, economista

“Vamos ter crescimento, mas sem desenvolvimento”

Dada a situação econômica mundial atual, o que pode acontecer na economia brasileira e londrinense em 2012? Há perspectivas de crescimento?
Clévia França - No cenário atual, há opiniões que divergem totalmente na questão da economia. Mas a própria mídia trouxe, esta semana, que apesar de toda a crise que se coloca, o Brasil está tomando a posição de 6ª. economia mundial. Quanto ao crescimento econômico, a previsão que haja sim. Este ano, toda imprensa divulgou que houve crescimento de vendas e redução de inadimplência, principalmente na questão dos impostos. Então, são boas perspectivas para o novo ano. Porém, é preciso deixar claro que há uma grande diferença entre crescimento e desenvolvimento econômico.


Como assim?
São muito diferentes porque, tanto o País como o mundo econômico, podem crescer. Agora, desenvolver é uma outra história. Nós, economistas, só enxergamos desenvolvimento quando reduz a desigualdade ou reduz a concentração de renda. E isso eu não consigo enxergar, ainda.


Não? Mesmo com o crescimento de renda da população?
Não, porque eu vejo um país crescendo sim, com aumento no crescimento da renda, com a questão da redução de impostos e liberação de crédito, houve um aumento no consumo, as pessoas estão comprando mais. Porém, quando se fala em desenvolvimento eu não consigo vê-lo. A história econômica do Brasil é essa, quando há um crescimento econômico, um aumento de renda generalizado, aquela pequena parcela da população que detém o maior capital tem um aumento muito maior que o proporcional das demais classes. Então, aumenta ainda mais a concentração.


Então 2012 terá crescimento...
Na visão de economista, a tendência é que haja um crescimento ainda maior, mesmo com toda a crise que se instala. Sempre que acontece uma crise têm-se a seguinte questão: que o Brasil não foi atingido mas saiu “ralado”, não se quebrou. Mas, em qualquer crise, já que somos um País dependente economicamente de outros países, o que afeta os demais afeta a gente também. Não tem como sairmos ilesos da situação. Mas o crescimento é tendência praticamente certa mas não com desenvolvimento simultaneamente.


E desenvolvimento, no caso, seria mais geração de emprego, mais instalação de indústrias...
Sim, e principalmente a redução da concentração de renda, da desigualdade social. Só assim eu poderia dizer que o País vai estar se desenvolvendo, diferente de estar crescendo. Às vezes as pessoas se enganam quanto a isso por houve elevação no PIB, porque a economia cresceu, porque a inflação caiu. Então diz: “Puxa, estamos nos desenvolvendo”. Não, não estamos. O aumento de salário mínimo, por exemplo, é muito menos que o proporcional ao das outras classes. Ou seja, nós estamos crescendo e concentrando ainda mais a renda. Por isso que o Brasil não chega a uma posição de país desenvolvido. Estamos sempre “em desenvolvimento” mas visto lá fora como país subdesenvolvido.


E como se faz para acabar com a concentração de renda?
Nessa situação, a única saída - é claro, além todos os investimentos em infraestrutura, educação, saúde, etc., em todas as áreas que sabemos que são prioritárias – nós temos que ter aumento de renda, sim, mas na outra ponta, aquele que detém o capital, ser menor ou nem existir por um certo período. Não que nós vamos conseguir chegar onde eles estão, mas reduzir as desigualdades. Se não, nunca vamos chegar à posição de país desenvolvido.


Seria então necessário também uma reforma tributária?
Sim, mas além. Uma reforma geral, tributária, estrutural. Nós temos alguns instrumentos que regem nossa economia, que são a política monetária, a política fiscal, de rendas e salários, a cambial, a política comercial. Então é um conjunto de políticas que deveriam agir no mesmo sentido, o de promover o crescimento com o desenvolvimento. E para que isso acontecesse teriam que haver reformas em todas essas políticas. Diz a nossa presidente [Dilma Roussef] que intenção de ir aumentando o salário mínimo até reduzir a diferença entre o salário e a inflação. Se o salário mínimo tivesse acompanhado a inflação, teríamos um salário de quase R$2mil. Exatamente pelo fato que nós crescemos mas não desenvolvemos.

 

Fonte: Jornal de Londrina