Para construir cenários estratégicos é preciso olhar para o passado

29/11/2011 13:18

De acordo com Schwartz (1991 apud RODRIGUES et al, 2009 p.51) “cenário é a configuração de um sistema  que deseja conhecer, vinculando necessariamente um determinado período”. Atualmente existem várias técnicas de construção de cenários, entretanto, muitas ou quase todas, não consideram a análise do passado para a construção de cenário. Quando existe a análise, o período analisado é muito curto, desta forma, tal análise agrega pouco ao processo.

A história é cíclica (MACHIAVELLI, 1532), isto é, o que aconteceu outrora, possivelmente acontecerá novamente. O homem subdividiu o tempo em ciclos: segundos, minutos, horas, dias, semanas, meses, anos, estações e etc. Em análise a política brasileira, quantos escândalos políticos se tem conhecimento, somente na ultima década? Quantos “mensalões”, propinas, desvios de recursos públicos, queda de ministros e promessas de candidatos não compridas, aconteceram nos últimos anos? Perceba, não se critica os políticos do país, mas apenas, recorda-se os fatos que tem se repetindo há vários anos.

Desta forma, entende-se que a história é um ciclo. E o que faz parte da história? O ambiente das empresas faz parte da história. O que tem acontecido nos últimos 20 anos, no ambiente/setor de muitas empresas? O que tem acontecido nos últimos 20 anos, no cenário econômico nacional e mundial? Quantas crises nacionais, greves em grandes centros, barreiras de entrada imposta por vários países, falência de grandes multinacionais? Quanto maior o período analisado, maior será a probabilidade de acerto na construção dos cenários.

O objetivo de construir cenários não é prever exatamente o que irá acontecer, mas sim identificar as possíveis situações prováveis de acontecer, ao passo que a organização possa estar preparada para elas (RODRIGUES et al, 2009). Em geral, as empresas possuem muitas informações atuais sobre o ambiente, mas pouco se sabe do que aconteceu. Aliás, as empresas que tiveram a capacidade de analisar o passado, e não somente, o ambiente em que atuam, mas também os ambientes paralelos, certamente conseguirão construir um cenário mais próximo da realidade, ou ao menos, construir cenários que para as demais empresas eram improváveis.

Uma empresa que irá investir fortemente no mercado europeu, indispensavelmente deve estar ciente, que a alguns países são recheados de recessões econômicas, greves e aplicação de barreiras alfandegárias. A possibilidade de esses movimentos continuarem se repetindo é grande, pois segundo a lei de Newton: “Todo corpo em repouso tende a se manter em repouso”.

O mercado é constituído pela política de Machiavelli e a física de Newton. Para Garcia (2011) a análise do ambiente é um processo cartesiano, no qual se faz a análise fragmentada do ambiente, para que se tenha uma noção completa do todo. Logo, as partes fragmentadas analisadas são os fatos do passado. Com as análises retroativa, presencial e futura, o processo de formação de cenário estará solidificado e muito bem amparado.

Analisar o presente é de suma importância, uma vez que ele pode apontar tendências, no entanto podem ocorrer descontinuidades dessas tendências, por meio do ciclicismo histórico mencionado por Machiavelli. Se a empresa obtém conhecimento, de que maneira o consumidor ou concorrente se comporta após alguma crise, ou ainda, de que maneira o governo se posiciona frente a determinadas tendências, possivelmente esta empresa saberá de que forma agir, quando a situação se repetir.

Uma metodologia de se planejar um projeto, não é descobrir o que fazer, mas primeiramente, olhar para o passado e ver o que não deu certo nos projetos anteriores. Desta forma, é preciso aprender primeiramente o que não fazer, para posteriormente aprender o que fazer. Sendo assim, é preciso olhar para o passado para construir cenários estratégicos.

 

 

Autor: Ricardo da Silva Garcia                                                                                        

REFERÊNCIAS

GARCIA, R. S. O ambiente competitivo estratégico de uma microempresa do segmento farmacêutico da cidade de Londrina/PR. Londrina: Faculdade Arthur Thomas, 2011. 83p.

MACHIAVELLI, N. O príncipe. 3d. São Paulo: Editora Escala, 1532. 155p.

RODRIGUES, M. R. A.TORRES M. C. S. FILHO J. M. LOBATO. D. M. Estratégia de empresas. 9. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2009. 528p.